DESPERDÍCIO ALIMENTAR | 47
T
odos os anos, só em Portugal, cerca de
1 milhão de toneladas de alimentos vão
parar ao lixo. E o Natal não é exceção, pelo
contrário, esta é uma época em que o desperdício
alimentar e material ainda é mais acentuado.
Reduzir o desperdício não tem de significar, porém,
uma mesa mais pobre. Na verdade, menor quantidade pode até ser sinónimo de maior qualidade,
permitindo apostar em ingredientes de uma gama
mais alta ou produtos orgânicos. É nas compras,
aliás, que se começa a combater o desperdício.
Tal como no dia a dia, ter um menu definido para
o número de convidados esperados e uma lista
de ingredientes já preparada é meio caminho
andado para evitar compras de impulso que frequentemente são desnecessárias e acabarão por
resultar em mais desperdício. Um outro erro comum é a insistência em manter à mesa pratos e
doces tradicionais só pela tradição. Por exemplo,
se todos os anos lhe sobram dezenas de azevias,
então talvez seja altura de retirá-las do menu – ou
pelo menos reduzir a quantidade. Aposte em duas
ou três variedades tradicionais e não deixe que o
hábito seja amigo do desperdício.
Ainda assim, é expectável que a mesa não esteja completamente vazia no final – o que não são
más notícias, desde que saibamos gerir as sobras.
Frutos secos podem ser facilmente armazenados
em recipientes, o bolo-rei pode dar umas ótimas
torradas e a maioria dos pratos podem ser facilmente congelados, em porções individuais ou
familiares, para serem consumidos mais tarde.
Outra boa solução é usar as sobras do Natal para
servirem de base a novas receitas. E porque no Natal o espírito é de partilha, partilhar as sobras com
os convidados é também uma excelente forma de
garantir que nada se perde.
A verdade é que está na altura de largar a ideia
de que mais vale sobrar do que faltar. Apesar de
ser uma frase muito dita por todos nós e que vai
passando de geração em geração, as sobras de
Natal resultam muitas vezes em desperdício,
quando a solução pode ser bastante simples: diminuir doses, repartir por todos e até comprar os
produtos certos, para não cair em tentações. Das
mesas com a maior variedade de bolos que já viu –
e que muitos ficam quase inteiros –, é o momento
de escolher aqueles que mais agradam a todos.
Motivos não faltam para querer optar por um Natal sem desperdícios. Seja para poupar dinheiro
ou para evitar o desperdício, a realidade é que um
Natal sem lixo não significa um Natal sem luxo,
muito pelo contrário.
Para começar, não há nada como definir uma
lista de compras para a ceia e para o almoço de
Natal, como já referimos. Desta forma, vai ajudar
a evitar o desperdício de alimentos. A juntar à lista deve também privilegiar a qualidade e não a
quantidade. Isto significa que deve confecionar os
principais pratos em casa, ajudando a economizar
e a evitar um maior consumo de produtos embalados. Se quiser ir mais longe, também pode tentar
passar uma mensagem através da sua mesa de
Natal. Nesta época de partilha, mostre aos seus
familiares que não há nada como incluir no menu
vários produtos nacionais e regionais de origem
biológica.
Já tinha pensado na loiça a utilizar nestes dias?
Há quem não queira ter trabalho e opte por pratos
descartáveis, mas a realidade é de que deve optar por loiça lavável e toalhas e guardanapos de
tecido. Para além de dar um aspeto mais bonito
à sua mesa, vai ainda estar a contribuir para um
mundo melhor ambientalmente.
Sobras que
são um luxo
Natural de Trás-os-Montes,
o chef Vítor Adão, do restaurante Plano, em Lisboa,
sugere umas pataniscas de
polvo para aproveitar as
sobras do Natal: “Aqueça 1l
de óleo a 180ºC. Pique 200g
polvo, 100g cebola, 5g alho
e salsa a gosto. Envolva
com 2 ovos, 50g farinha,
0,5l leite e sal e pimenta
qb. Para pataniscas mais
fofas, junte 10g de fermento
em pó. Deixe descansar 10
minutos, frite até ficarem
douradas e sirva regadas
com sumo de limão.”
3 passos para uma ceia antidesperdício
1
COMPRAS COM PESO E MEDIDA
Confirmar o número de convidados, definir o
menu e fazer uma lista de compras é o primeiro passo
para evitar o desperdício no Natal. Ao mesmo tempo,
sabendo que esta é uma época em que sobra sempre
comida, deve reduzir as compras para o dia a dia,
evitando estragar comida e permitindo ganhar espaço
no frigorífico e congelador para preservar as sobras.
2
EQUILÍBRIO NA MESA
A forma como servimos a comida pode fazer
toda a diferença. Um dos melhores exemplos disso
são as tábuas de queijos, sobremesas como mousses
e bavaroises, e tudo o que requer conservação no frio.
Nestes casos, opte por servir apenas parte destes
pratos, preservando o resto no frigorífico, para evitar
que se estraguem, e sirva o resto só quando for
necessário.
3
SOBRAS PARA QUE VOS QUERO
Além de congeladas para serem consumidas mais
tarde, as sobras do Natal podem também servir de
base para novas receitas, como a tradicional “roupa
velha”, feita com as sobras de bacalhau, pataniscas e
croquetes, empadões, gratinados com os restos dos
queijos, sopas com as couves e legumes e muito mais.